Baleia jubarte escapa da lista de animais extinção graças ao Brasil: de 450 a mais de 25.000
Natureza

Baleia jubarte escapa da lista de animais extinção graças ao Brasil: de 450 a mais de 25.000

Em meio a todas as notícias aparentemente caos e infelizes do mundo, é animador ouvir que uma espécie marinha não está apenas se recuperando, mas prosperando. Novas pesquisas mostram que as baleias jubarte no Atlântico Sul se recuperaram da beira da extinção.

Devido à intensa pressão da indústria baleeira no início de 1900, as populações de jubarte do Atlântico Sul diminuíram para apenas 450 baleias no total. Estima-se que 25.000 dos mamíferos foram caçados em um período de 12 anos, informa GoodNewsNetwork .

População de animais aumentou significativamente em quase 30 anos.
Mamífero aquático foi reclassificado para ‘quase ameaçado’.

O Brasil tirou a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) da lista de espécies ameaçadas de extinção graças ao aumento da população desses animais no litoral do país, onde cruzam e geram novos filhotes.

A espécie foi reclassificada para “quase ameaçada”, status que demanda a continuidade de trabalhos de conservação. A informação será divulgada nesta quinta-feira (22) pelo Ministério do Meio Ambiente.

Na década de 1960, os cientistas notaram que as populações de baleias estavam diminuindo em todo o mundo. Em meados dos anos 80, a Comissão Internacional da Baleia emitiu uma moratória em todos os baleeiros comerciais. Desde então, outras salvaguardas foram aprovadas para ajudar as populações em dificuldades.

Graças à pesquisa em co-autoria de Grant Adams, John Best e André Punt, da Escola de Ciências Aquáticas e da Pesca da Universidade de Washington, sabemos agora que a população da espécie (Megaptera novaeangliae) se recuperou para 25.000. Segundo os conservacionistas, essa estimativa é semelhante aos números pré-baleeiros.

“Fomos agradavelmente surpreendidos pelo retorno; estudos anteriores não sugeriram que as baleias jubarte nessa região estavam fazendo isso muito bem ” , disse Best.

O estudo foi publicado na revista Royal Society Open Science e refuta uma avaliação anterior realizada pela Comissão Internacional da Baleia entre 2006 e 2015. O estudo anterior indicou que a população havia recuperado cerca de 30% de seus números anteriores à exploração. Esses dados recém-publicados, no entanto, fornecem informações mais precisas sobre capturas, histórico de vida e genética.

“A contabilização das taxas pré-modernas de baleias e de acertos e perdidos em que as baleias foram baleadas ou arpadas, mas escaparam e morreram mais tarde, nos fez perceber que a população era mais produtiva do que pensávamos”, disse Adams, um estudante de doutorado da UW que ajudou a construir o novo modelo.

Os autores esperam que o modelo construído para o estudo possa ser usado para determinar a recuperação da população em outras espécies também. “Acreditamos que a transparência na ciência é importante”, disse Adams. ” O software que escrevemos para este projeto está disponível ao público e qualquer pessoa pode reproduzir nossas descobertas”.

O autor principal, Alex Zerbini, brasileiro do Instituto Conjunto para o Estudo da Atmosfera e do Oceano da UW, enfatizou a importância de capturar avaliações da população sem preconceitos. Ele acrescentou que as descobertas são boas notícias – um exemplo de uma espécie se recuperando da quase extinção.

 “As populações de animais selvagens podem se recuperar da exploração se o manejo adequado for aplicado”,  disse Zerbini , que concluiu este trabalho no laboratório de mamíferos marinhos do NOAA Alaska Fisheries Science Center.

Impacto humano
Com exemplares que podem medir até 16 metros de comprimento e pesar mais de 40 toneladas, as jubartes foram, por muito tempo, alvo da pesca predatória no Brasil.

Há quase três décadas existiam entre 500 e 800 jubartes vivendo na região de Abrolhos, no Sul da Bahia. Em 2011, foram avistados 14 mil animais. Até o próximo censo, previsto para este ano, o número pode saltar para 20 mil

Sérgio Cipolotti, biólogo e coordenador ambiental do Instituto Baleia Jubarte, explica que o declínio de espécimes começou em meados do século 17, quando eles eram caçados para extração de óleo, usado para abastecer candeeiros, responsáveis pela iluminação nas cidades, e consumo da carne.

Com a queda populacional das jubartes e de outras baleias em todo o planeta, criou-se a Comissão Internacional Baleeira (CIB), que teve entre seus principais resultados a imposição de uma moratória de caça a partir de 1986.

Ugo Versillo, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), explica que no ano seguinte, em 1987, o Brasil proibiu a caça.

A partir deste momento, foram iniciados trabalhos de conscientização para aumentar o número de exemplares, como a identificação das rotas migratórias, quais eram os perigos que esses animais enfrentavam e outros detalhes importantes para a conservação.

No entanto, segundo Versillo, ainda não há o que comemorar. A reclassificação para o status “quase ameaçada” significa, na visão do técnico do ICMBio, que ainda há perigo.

“Uma das grandes preocupações é a questão da colisão com navios. Como aumentou o número de baleias, pode crescer esse tipo de acidente. Temos que definir estratégias para evitá-los, incluindo o uso de tecnologias”, explica.

Alexandre Zerbini, que trabalha no Laboratório Nacional de Mamíferos Marinhos da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês), órgão dos Estados Unidos responsável pelos mares e atmosfera, explica que há várias tecnologias que ajudariam a prevenir a mortalidade desses animais.

Um dos exemplos é a telemetria satelital, que permite investigar habitats críticos e protegê-los de atividades humanas. “Mas há métodos acústicos em desenvolvimento, que poderão transmitir dados em tempo real e evitar áreas onde as baleias se encontram, além de métodos novos de observação, para minimizar colisão com barcos”, explica Alexandre, que também trabalha junto a ONG Instituto Aqualie, que monitora baleias no Brasil via satélite.

A população de jubartes no Brasil tem crescido a uma taxa de 7,5% ao ano e a quantidade de espécimes que existem atualmente representa cerca de 60% daquela existente antes da caça comercial
Nos EUA, por exemplo, pesquisadores desenvolveram um aplicativo gratuito para iPad e iPhone que alerta marinheiros quando eles se aproximam de uma área onde baleias estão reunidas. O app envia os últimos dados sobre as direções tomadas por espécimes da baleia, coletados pela NOAA.

O sistema espera limitar o número de colisões mortais entre baleias e embarcações, especialmente navios de grande porte, como cruzeiros e cargueiros. Quando as baleias são detectadas na área, navios podem mudar levemente o curso ou diminuir a velocidade.

Santuário no Atlântico Sul
Um grande projeto apoiado por Brasil, Argentina, Uruguai e África do Sul, é a criação de um santuário no Atlântico Sul, que preservaria as jubartes e outros animais marinhos que fazem do trecho de oceano entre a América do Sul e a África seu habitat.

Desde 2000, o governo brasileiro, liderando o chamado Grupo de Buenos Aires, apresenta a proposta do santuário e defende o uso não letal de baleias. Além de assumir uma postura conservacionista, o país defende que o turismo de observação é um negócio muito mais rentável e gerador de emprego do que a morte do animal.

O projeto, já apresentado e que está em análise científica, deve ser votado em setembro, durante a reunião anual da Comissão Internacional Baleeira, que acontece em Estocolmo, na Suécia. “O santuário quer harmonizar as políticas, de maneira que os cetáceos sejam preservados. A conservação é a atividade mais barata que se tem”, disse.

Para ser aprovado, o santuário precisa ter 75% dos votos dos 88 membros da CIB. Porém, países que apoiam a caça de baleias, como Japão e a Islândia, costumam emperrar a negociação.

CRÉDITO DE IMAGEM: Alberto Loyo

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