Depois de alguns dias observando as consequências de uma explosão que ocorreu na Rússia no último 8 de agosto, especialistas agora afirmam que estão confiantes que se tratou de algum incidente em um reator nuclear.
Embora tenha matado cinco cientistas e sido acompanhada de um aumento nos níveis de radiação, a Rússia vinha negando o envolvimento de qualquer material nuclear.
Encobrimento
Inicialmente, canais de mídia russos informaram que a explosão tinha ocorrido em um motor a jato com propulsor líquido. Mais tarde, a agência nuclear da Rússia, Rosatom, afirmou que os especialistas mortos no acidente estavam desenvolvendo novos tipos de armas com uma fonte de energia isotópica.
A Rússia possui um histórico de negar ou distorcer acidentes nucleares que ocorrem em seu território, como a famosa história de Chernobyl mostra.
O incidente de agosto não é diferente. Segundo o Big Think, uma série de atitudes antiéticas seguiram a explosão.
O jornal Moscow Times divulgou que os médicos que trataram engenheiros feridos no acidente não foram avisados de que seus pacientes estavam cobertos em material radioativo. Além disso, os profissionais de saúde precisaram assinar acordos que os proibiam de discutir o assunto, e registros hospitalares teriam sido destruídos.
Por fim, diversas estações de monitoramento nuclear russas ficaram offline após a explosão.
Nuclear, sim
A explosão se originou no campo de armas militares Nyonoksa. De lá, emanou uma nuvem de gases radioativos que alcançou cidades próximas, como Severodvinsk. Algumas postagens em redes sociais mostraram que os primeiros respondentes ao incidente estavam usando trajes de proteção.
Após a detonação, a agência meteorológica russa confirmou uma mistura de isótopos radioativos em decomposição no ar, entre eles estrôncio-91, bário-139, bário-140 e lantânio-140. Essas substâncias possuem meias-vidas que se degradam entre 83 minutos e 12,8 dias.
Joshua Pollack, especialista em proliferação nuclear e mísseis, disse ao portal Business Insider que essas substâncias são produtos de fissão nuclear. “Se alguém ainda duvida que um reator nuclear esteve envolvido neste incidente, este relatório deve ajudar bastante a resolver o caso”.
O especialista em segurança nuclear norueguês Nils Bøhmer concorda. “A presença de produtos de decomposição como bário e estrôncio é proveniente de uma reação em cadeia nuclear. É uma evidência de que foi um reator nuclear que explodiu”, esclareceu ao The Barrents Observer. Tal mistura não seria vista no caso da explosão de um motor comum com apenas uma “fonte de isótopos”.
Ainda, o especialista em efeitos de radiação Yuri Dubrova, falando com o Moscow Times, disse que os pacientes trazidos ao hospital depois da explosão muito provavelmente possuíam uma alta dose de isótopos radioativos em sua pele. Não há como determinar quantos médicos foram expostos ou como a população ao redor foi afetada, porque a Rússia não tem colaborado com informações claras.
“Se a dosagem não for muito alta, a pessoa deve se recuperar completamente dentro de uma semana se receber água e comida limpas. A exposição ao césio-137 é bastante evitável – tudo o que você precisa fazer é lavar o paciente muito bem. Mas os médicos ficaram vulneráveis à radiação porque não haviam sido informados do que havia acontecido”, explicou Dubrova.
Armas russas
Atualmente, a Rússia está testando dois tipos de armas que podem incluir um reator nuclear, sendo elas o míssil de cruzeiro Burevestnik e o drone subaquático Poseidon.
Tanto os especialistas quanto a mídia independente e a comunidade internacional precisam ficar de olho para garantir que a nação não tente esconder seus incidentes e seja responsabilizada pelas potenciais consequências de seus testes. [BigThink]