Operação do Ibama contra garimpo ilegal e desmatamento em terra indígena, em maio de 2018 (Créditos: Vinícius Mendonça/Ibama)
O Intercept Brasil, em parceria com o portal Open Democracy, revelou na manhã desta sexta-feira, 20/IX, um plano do governo Bolsonaro para a exploração de uma das áreas mais preservadas da Amazônia.
Trata-se do “Projeto Barão do Rio Branco” – assim batizado em homenagem a José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, importante diplomata da República Velha.
Uma das principais contribuições do Barão do Rio Branco à diplomacia brasileira foi a consolidação das fronteiras na região Norte, através de negociações bilaterais e processos de arbitragem com outros países. Foi assim que ele conseguiu negociar as atuais fronteiras do Amapá e do Acre, por exemplo.
Justamente a questão de defesa das fronteiras é uma das justificativas para o novo plano.
Segundo documentos obtidos pelo Intercept, o “Projeto Barão do Rio Branco” prevê o povoamento em larga escala de um trecho da Amazônia no oeste do estado do Pará. Essa colonização se daria, especialmente, através de população não-indígena, atraída por grandes projetos como criação de áreas de mineração e derrubada da floresta nativa para criação de plantações de milho e soja.
Esse povoamento serviria também, na visão bolsonária, para “proteger a fronteira norte do país”.
O oeste do Pará é uma das regiões mais preservadas da Amazônia.
Mas não é nenhuma novidade que o governo Bolsonaro despreza a questão ambiental…
O projeto foi elaborado por um coronel reformado do Exército, sob os auspícios da Secretaria de Assuntos Estratégicos – chefiada, também, por um militar reformado: o gal. Maynard Marques de Santa Rosa.
Em seguida, a proposta foi apresentada à Federação da Agricultura do Pará em reunião no dia 25 de abril.
Santa Rosa é, segundo o texto de Tatiana Dias no Intercept, “dado a teorias da conspiração sobre as intenções de ambientalistas na floresta” e “alimenta paranoias sobre a insegurança das fronteiras brasileiras”…
Segundo a apresentação, diversos elementos constituem grave ameaça ao desenvolvimento econômico da região amazônica: os movimentos sociais e a defesa do meio ambiente, por exemplo, são listados como obstáculos, sob os nomes “indigenismo”, “quilombolismo” e “ambientalismo”.
É uma abordagem semelhante àquela utilizada recentemente pelo chanceler Ernesto Araújo, que culpou o “climatismo” pelos ataques à política ambiental do governo Bolsonaro.
Slides da apresentação do “Projeto Barão do Rio Branco” (Reprodução/Intercept Brasil)
Outro obstáculo seria a presença de imigrantes e investimentos chineses no Suriname, país que faz fronteira com o Pará. Segundo o gal. Santa Rosa, a imigração chinesa seria parte de um plano de Pequim para ameaçar a soberania brasileira na Amazônia.
A presença da Igreja Católica na região também preocupa a cúpula militar – especialmente ações com “viés político”, como o Sínodo da Amazônia, quer será realizado em outubro.
Segundo o Intercept, o “Projeto Barão de Rio Branco” afetaria 27 terras indígenas e áreas protegidas da Amazônia – as consequências para as populações locais e para o meio ambiente podem ser gravíssimas e irreversíveis.
Leia a reportagem completa no Intercept Brasil.