Juízes revogaram uma decisão de 2013 que validava uma lei britânica de mais de 150 anos.
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Em uma decisão histórica, a Suprema Corte da Índia descriminalizou nesta quinta-feira (6) a homossexualidade no país. A discriminação por causa da orientação sexual passa a ser uma violação dos direitos fundamentais.
A decisão unânime revogou uma sentença de 2013 que validava o artigo 377 do Código Penal indiano, uma lei da era colonial que punia “relações carnais contra a ordem da natureza” e criminalizava com penas de 10 anos de prisão as relações entre pessoas do mesmo sexo. Esse artigo tem 157 anos.
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Suprema Corte da Índia acaba com criminalização de relações entre pessoas do mesmo sexo
A decisão da Suprema Corte não pode ser contestada e representa uma grande vitória para a comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) no país. Um grupo que acompanhava a sessão do lado de fora do prédio festejou o veredito.
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Indianos comemoram decisão da Suprema Corte da Índia que descriminaliza a relação homossexual e considera crime a discriminação por causa da orientação sexual — Foto: Sajjad Hussain / AFP
Decisão unânime
A Suprema Corte ouviu em julho argumentos de vários representantes da comunidade LGBT, inclusive diversas personalidades, que fizeram um apelo pela invalidação da lei.
Os cinco juízes que compõem o Supremo indiano, liderado pelo juiz Dipak Misra, declararam suas sentenças individualmente e concordaram de maneira unânime em anular o artigo 377.
“O artigo 377 é arbitrário. A comunidade LGBT possui os mesmos direitos que os demais. A visão majoritária e a moralidade geral não podem ditar os direitos constitucionais”, afirmou o juiz Misra ao ler sua sentença.
“Criminalizar o relacionamento carnal é irracional, arbitrário e manifestamente inconstitucional”, concluiu Misra.
Comunidade LGBT e simpatizantes comemoram decisão da Suprema Corte da Índia que descriminaliza relações homossexuais — Foto: Rafiq Maqbool/AP
Artigo 377
O artigo 377, que foi colocado em prática pelos britânicos em 1861, quando a Índia ainda era colônia do Reino Unido, determinava prisão para “qualquer pessoa que voluntariamente tenha relações carnais contra a ordem da natureza”.
Em 2009, o Tribunal Superior de Nova Délhi considerou que o artigo 377 violava vários artigos da Constituição ao criminalizar os atos sexuais consentidos entre adultos. Porém, em 2013, a Corte Suprema voltou a validá-lo.
Ativista pelos direitos dos homossexuais comemora nesta quinta-feira (6) depois que Suprema Corte da Índia derrubou lei colonial que punia relações homossexuais — Foto: Rafiq Maqbool/AP
Comemoração
“Nós nos sentimos como cidadãos [com direitos] iguais agora. O que acontece no nosso quarto é uma questão pessoal”, disse à AP o ativista Shashi Bhushan.
Na última década, a causa LGBT passou a ser melhor aceita no país. O avanço na legislação é bem recebido nas maiores cidades, embora ainda enfrente uma forte oposição de grupos religiosos e comunidades rurais conservadoras.
Alguns filmes de Bollywood – como é chamada a produção cinematográfica local – abordaram essa questão.
O cineasta indiano Karan Johar comemorou o veredicto.
“Histórico julgamento. Tanto orgulho hoje! Descriminalizar a homossexualidade e abolir o artigo é um enorme incentivo para a humanidade e para a igualdade de direitos! O país recupera seu oxigênio!”, escreveu Johar no Twitter.
“É a primeira etapa de uma história que já viveram muitos outros países que descriminalizaram a homossexualidade, que depois autorizaram as uniões civis e, finalmente, os casamentos entre as pessoas do mesmo sexo”, declarou Keshav Suri, uma das principais vozes do movimento LGBT na Índia.
“Cancelando a descriminalização das relações sexuais entre as pessoas do mesmo sexo, prevista no artido 377, a Suprema Corte da Índia deu um passo monumental que terá repercussão em todo mundo”, afirmou a diretora do escritório do sudeste asiático da Ong Human Rights Watch, Meenakshi Ganguly, no Twitter.
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Comunidade LGBT celebrou após o veredicto da Suprema Corte da Índia, em Mumbai, que descriminalizou o sexo gay nesta quinta-feira (6) — Foto: Francis Mascarenhas/ Reuters