UFRJ Caxias desenvolve tratamento alternativo para cura da leishmaniose em humanos, mas falta de verba pode atrapalhar
Ciência

UFRJ Caxias desenvolve tratamento alternativo para cura da leishmaniose em humanos, mas falta de verba pode atrapalhar

Um pesquisa desenvolvida há cinco anos pode ser decisiva para o tratamento da leishmaniose em humanos. Coordenada pelo professor e pesquisador Herbert Guedes, do Campus Duque de Caxias/UFRJ Prof. Geraldo Cidade, em Santa Cruz da Serra, o estudo utilizou duas terapias com anticorpos já conhecidos no combate ao câncer. O tratamento é capaz de reduzir o número de parasitas no local da ferida dos camundongos analisados, sendo essencial para a diminuição e cura da doença. A expectativa, agora, é começar os testes clínicos em humanos, explica o professor:

 

— São anticorpos que já são usados em humanos para tratamento do câncer. Então, agora temos que pegar pacientes que já têm a doença e testar se funcionam. A pesquisa já foi pré-publicada na revista americana BioRxiv e será publicada ainda este ano em outra revista americana. Depois disso, vamos pedir aprovação ao Ministério da Saúde para realizar testes em humanos.

Além dessa autorização, um fator imprescindível para o início dos testes será o financiamento da pesquisa. Com o corte de verba para instituições federais, o estudo poderá ser comprometido.

— Serão necessários recursos para compra de insumos, medicamentos, internação de pacientes, porque tem que mantê-los no hospital. Com o corte da bolsa Capes, você corta a mão de obra, porque são bolsas de alunos que são pesquisadores diários — explica Guedes, ressaltando os valores da primeira parte do trabalho:

— A pesquisa foi experimentada em 75 animais. Um anticorpo que dá para um experimento custa R$ 10 mil.

A leishmaniose é predominante no Nordeste e no Norte, embora também existam casos por todo o país, segundo o professor. Ela é transmitida pelo mosquito palha, que deposita o parasita leishmania ao picar o hospedeiro. O parasita se infiltra na célula da pessoa infectada. A doença causa feridas na pele.

A pesquisa já foi realizada com camundongos e, na nova fase, deverá ser feita com humanos

A pesquisa já foi realizada com camundongos e, na nova fase, deverá ser feita com humanos Foto: Reprodução

Em geral, pacientes com câncer ou leishmaniose têm nas células doentes as proteínas PDL-1 e PD-1, que bloqueiam a ação do sistema imune. A pesquisa “Estudo de novas terapias anti-leishmaniose”, desenvolvida por Herbert Guedes, utiliza os anticorpos (anti PDL-1 e anti PD-1) que se associam às células infectadas pelo parasita e impedem o bloqueio do sistema imunológico.

— Na pesquisa, temos dois alunos do campus Caxias que se formaram em Biofísica e Biotecnologia — afirma Guedes, cuja pesquisa foi baseada em um estudo americano que testa a ação dos anticorpos, quando associados às células cancerosas, bloqueando a ação delas. O estudo ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 2018.

O corte de verbas também está comprometendo outros setores do campus de Caxias. Este ano, foram inaugurados o mestrado e o doutorado em Nanobiossistema, com seleção de quatro alunos entre mais de 20 candidatos. Nenhum deles conseguiu bolsa Capes nem CNPq. A Capes disse que o curso consta no sistema como ainda em fase do projeto.

No campus, também é aguardada uma subestação elétrica para suportar todos os laboratórios e a reforma de dois prédios para, assim, ampliar as pesquisas, além da transferência dos laboratórios do Polo Xerém para Santa Cruz da Serra, incluindo o laboratório de experimentação animal (Biotério), para as pesquisas com animais.

Sobre a reforma dos prédios, instalação da subestação e mudança dos laboratórios, o Ministério da Educação disse que as instituições têm autonomia para administrar a verba que recebem do governo federal. A UFRJ informou que há negociações para uma solução do novo campus envolvendo a nova reitoria, o MEC e a Prefeitura de Caxias. O CNPq não respondeu.

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